uma conversa intermediada
31, dezembro, 2020.
Quero falar sobre arte…
Eu preciso falar sobre arte…
Mas não quero falar como Rancière, Huberman, Deleuze, Benjamin, ou tantos outros que se preocuparam com a estética, com o sistema, com a arte enquanto disciplina, enquanto episteme. Se for para isso prefiro me aproximar de Octávio Paz e seu modo sereno, poético, seu modo único de falar sobre a arte, sua construção de castelos de areia, suas conversas… mas nem dele me sinto próximo hoje. O que meu corpo, minha garganta exigem é outro, outro modo, outra forma de dizer. Uma forma talvez não tão bela, não tão erudita, racional. Mas o que de racional possui a arte? Será que mesmo Mondrian, Klee, Malevich, aceitariam apenas uma visão lógica de seus feitos?! Sinto a falta do toque, porém
NÃO TOQUE ISTO É ARTE
E se não posso tocar como ela me tocará? Como transpasso essa distância irreparável que criaram entre mim e ela? Quantos passos preciso dar? E se o dê-los para onde iria? Para cima? Baixo? Frente? Trás?
Me sinto tão distante de algo que outrora eu fui. E busco recuperar pois eu ainda sou. Sinto lá no fundo que sim, sou. Sou arte, sou uma construção criativa, cotidiana, sou imagem, a imagem que toca e que se deixa tocar.
Mas de que modo quero falar então?! Quero falar que é belo, que é feio, que é desinteressante, ou interessante demais, que me faz sentir asco, nojo, ternura, arrepio, que me faz suspirar, que me horroriza, que me aterroriza, que me ama, que me beija, que eu beijo, que me assusta, que me surpreende. Quero dizer que amo, que odeio, que simplesmente é isso, sem anedotas, sem referências, quero argumentar com minha pele, meu peito, meu olhar terno ou duro. Quero enfim, retornar-me a um com ela, sem pensar. Apenas deitando com ela, deixando os dias e as noites passarem.